Capitulo 1

10/10/2010 14:54

 (Carreguem no título do artigo para verem o artigo completo)

Espero que gostem. Pode ter algumas gralhas mas é normal. Vou colocando novos capítulos todas as semanas. Passem a palavra a amigos e a colegas e aos pais. Demorou muito tempo  a fazer e tem mais de cem páginas. Boa leitura. Enfim, aqui fica o primeiro capítulo do livro da minha autoria:

Capitulo Um

Descia, descia, sem nunca a encontrar. Experimentou chamar, mas nada. Não havia sinal dela, onde é que ela se tinha metido? Os degraus rangiam, quando os seus pés os pisavam, parecendo uma orquestra muito desafinada. Olhou para trás para ver se o caminho estava livre. Era o único sítio onde a podia encontrar. Se a sua mãe o apanhasse ele estava metido em maus lençóis.

-Kate, anda lá para cima! O jogo acabou. A mãe chamou para o jantar – disse ele baixo para não o ouvirem, mas suficientemente alto, para que se a sua irmã ali estivesse, ouvisse.

Nada, não havia sinal dela. De repente uma voz sobressaltou-o.

-A mãe está a chamar – disse uma voz fininha por detrás dele.

Ryan virou-se dando de caras com Kate, que por entre risinhos e gargalhadas histéricas, subiu as escadas em direcção à cozinha.

-Ah, e se o pai te apanha aqui, esfola-te vivo – disse ela, desaparecendo por fim.

-Népia. Eu já cá vim muitas vezes – disse Ryan, sabendo, ele próprio, que não era verdade. Se o pai dele o apanhasse na sua preciosa cave, era capaz de o proibir de ver televisão e jogar PlayStation durante uma semana, ou até pior.

-Sua… - gritou Ryan, dando um soco no ar.

Subiu as escadas apressadamente, fechando a porta atrás de si, seguindo para a cozinha.

A sua mãe, descascava batatas para cozer, e Kate já comia uma pizza de sete ingredientes. Quando ele entrou, as duas pararam de fazer o que faziam, olhando fixamente, para depois sem uma palavra retomarem a descascar batatas e a comer a pizza.

-Para que é que estás a descascar batatas se temos aqui uma pizza tão apetitosa? – perguntou Ryan à mãe.

A mãe, olhou-o nos olhos e desviou a cara, poisando a faca em cima do lava-louças.

-Totó! – exclamou Kate, metendo um grande pedaço de pizza na boca.

Kate era a irmã mais nova de Ryan. Conseguia ser bastante irritante para com Ryan. Kate tinha oito anos, menos quatro que Ryan, mas parecia uma bebé de cinco anos, pois estava sempre na brincadeira, e era muito chata e chorona.

-Totó, és tu! – ripostou Ryan.

A mãe de Ryan, com uma travessa na mão, cheia de batatas às rodelas e um bife de porco bastante tentador, saiu da cozinha, voltando atrás, para mandar uma boca a Ryan:

-A tua irmã está a ser verdadeira. Tu estás a ser totó – disse ela.

Ryan, sem perceber o que se passava sentou-se à frente de Kate, tirando três fatias de pizza para o seu prato e começando a devorá-las.

-Agora a sério, porque é que a mãe estava a descascar batatas, se temos pizzas.

-És mesmo totó. O pai está doente, ou não te lembras? – perguntou Kate.

-Lembro e daí. Estás a dizer que as batatas e a carne eram para o pai? Não à nada que uma pizza não cure! – disse Ryan, sentindo-se estúpido, por não se ter lembrado que o pai estava doente e que obviamente as batatas e a carne de porco eram para ele.

Kate levantou-se arrumando os pratos e saindo da cozinha sem mais uma palavra, deixando Ryan a olhar para a sua última fatia de pizza que estava no prato. Ele pressentia que a sua mãe e Kate lhe escondiam algo. Tinha de ir atrás da sua irmã para esclarecer as suas dúvidas. Mas, depois olhou para a pizza. Tinha um aspecto delicioso. Voltou a olhar para a porta aberta da cozinha, a pensar se devia e ter com Kate nesse momento.

-Oh, que se lixe. Depois falo com ela – disse ele dando uma enorme dentada na pizza de sete ingredientes.

 *

Ryan rebolava-se na cama, sem conseguir dormir. Olhou para o relógio digital em cima da sua mesinha de cabeceira, e viu que eram duas da manhã, já tinham passado três horas desde que se tinha deitado.

Como som de fundo, conseguia ouvir a sua mãe a ressonar em tom alto, e isto ainda o perturbava mais. De repente, uma luz vinda da janela cegou-o. Fechou os olhos, e quando a luz passou, levantou-se da cama e dirigindo-se à janela, viu uma figura alta a arrastar um balde de terra. Tinha sido a luz da lanterna do vulto que o tinha cegado durante uns instantes. Com os olhos mais habituados à escuridão, viu com clareza quem era o vulto. Era o seu pai!

-O que é que ele está a fazer? Ele não está doente? – perguntou Ryan para si mesmo.

O seu pai, ao virar a esquina da loja de bebidas ao lado de sua casa, desapareceu, fazendo Ryan voltar para o calor dos lençóis.

Depois lembrou-se que o seu pai devia estar a avançar com o seu projecto de uma casa na árvore feita de terra com revestimento em madeira. Mas mesmo assim o seu pai devia estar na cama.

*

Olhando de novo para o seu relógio viu que eram nove horas da manhã. Levantou-se, abriu as persianas e abriu um pouco da janela, para deixar o ar circular. O seu quarto cheirava a mofo.

Ouviam-se barulhos de uma colher a bater num prato e o som de uma televisão, o que significava que Kate estava já de pé e que estava a tomar o pequeno-almoço na sala. Era o momento ideal.

Dirigiu-se à cozinha, abrindo um pão de bico e metendo lá dentro duas fatias de presunto. Despejou um pouco de Coca-Cola num copo e, dirigiu-se à sala, sentando-se ao lado de Kate, sem sequer a cumprimentar.

Kate olhou horrorizada para o pequeno-almoço de Ryan.

-Coca-Cola logo de manhã? Depois queixa-te que não dormes nada e que ficas eléctrico durante o dia.

-Olha quem fala. Já não estás farta de saber que a mãe e o pai, principalmente, não gostam de que comamos aqui na sala, não sabes? – perguntou Ryan com ar trocista.

Kate, limitou-se a ignorá-lo. Pegando no comando mudou de canal, para um filme da Barbie, fazendo com que Ryan deita-se a língua de fora.

-Agora a sério. Diz lá o que se passa com o pai. Eu sei que ele não está bem, e não é só por doença. E tu e a mãe andam muito estranhas. O que se passa? – perguntou Ryan.

-Os pais vão-se separar. Tiveram umas discussões à dias e o pai ficou doente. Ele já não tem propriamente idade para isso. Tem cinquenta anos e problemas de coração, era natural que ele não ficasse normal – rematou Kate de uma vez só.

-O que… os pais vão… não… estás enganada, só pode! – exclamou Ryan, pouco confiante.

-Mas não estou enganada. Eu sei que gosto de te pregar partidas, mas daí a inventar uma coisa destas… - disse Kate serenamente.

-Então e as batatas cuidadosamente descascadas e a carne de porco tão apetitosa que a mãe fez para o pai? Hã? – perguntou Ryan, só para contrariar os seus sentimentos de dor e angustia.

-A mãe ficou com peso na consciência, pensa que foi ela a culpada de o pai ficar doente. E em parte foi. Não me perguntes o porquê da separação, que eu não sei – disse Kate quando Ryan ia para abrir a boca.

-Bolas, às vezes falas como se fosses uma adulta – disse Ryan, com voz murcha.

-Ao contrário de ti – disse Kate muito baixinho.

Ryan, começou a pensar nos problemas que a separação dos pais iria trazer. Podia estar poucas vezes com a irmã, nunca mais tinha jantares animados com a família junta. Nunca teria mais o prazer de estar com os dois pais ao mesmo tempo, entre outras coisas. Ele sabia isso, porque um colega dele, o conhecido como Noninhas, isto porque ele se chamava Nonus e era muito tímido, pequeno em estatura e adorava ler. Os rufias da turma e da escola, costumavam, fazer-lhe rasteiras, trancá-lo na casa de banho das raparigas, roubar-lhe o lanche, atirar-lhe borrachas na sala de aula, mandar-lhe boladas na barriga, atirar-lhe água para cima da roupa, rasgar-lhe os apontamentos das aulas. Mas desde que Ryan percebera que Nonus, era um miúdo fixe, que sabia jogar à bola e que até era bom aluno, começara a defendê-lo dos outros colegas. Ryan era um rapaz um pouco magro, mas como fazia ginásio duas vezes por semana, tinha uns músculos bem formados, e uma estatura elevada para a altura dele. Apesar disso, era um miúdo inteligente, embora às vezes tivesse a perda de inteligência. Os colegas mal tocavam em Nonus, que agradecia a Ryan, todos os dias e a toda a hora. Era claro que quando Ryan ia ao bar da escola ou ia à casa de banho, Nonus sofria algumas brincadeiras dos colegas rufias. Nonus tinha os pais separados, e já lhe tinha contado as desvantagem de ter os pais assim. Ryan, sentia-se agoniado só de ouvir aquilo, mas agora sentir que isso ia afectar a sua família, punha-o doido.

-Bolas, isto não me está a acontecer – disse ele, saindo da sala, deixando Kate a pensar que ele precisava de ir ao psiquiatra.

*

Bateu à porta. Ninguém veio abrir. Ouvia-se discussões entre a sua mãe e o seu pai.

-Mas eu não quero saber. Trocares isso por mim! Então força, vai lá, mas não te esqueças que depois tens que comprar uma casa – disse a sua mãe.

-Mas troco o quê eu nem sei do que estás a falar – disse o seu pai.

-Tu sabes bem do que eu estou a falar. Queres ir para França por causa de um emprego em que tu recebes mais duzentos euros do que ganhas aqui, tudo bem força. Mas deves ter a consciência que me vais deixar sozinha com os miúdos!

-Pensava que esse assunto estava morto e enterrado. Eu disse que vocês vinham comigo e com as poupanças que nós temos comprávamos lá uma casa e depois com o dinheiro da venda desta podíamos organizar melhor a nossa vida.

-Mas as poupanças servem para quando os miúdos forem para a universidade.

-Mas com o dinheiro da venda da cada podíamos ter uma maior poupança, não achas. De qualquer maneira, eu já lá fui ao centro de emprego e disse que não estou interessado na oferta. Satisfeita.

-Não. Tu nunca devias ter contado isso. Não penses que é assim que vamos ficar, como os miúdos dizem, “amigos”!

-Eu sei, para além disso, quem armou isto tudo foste tu, não fui eu!

-Que descaramento.

Ryan apercebeu-se que a mãe ia para sair do quarto, por isso em passo de corrida, foi para o seu.

*

O fim-de-semana não estava a correr nada bem. Sempre tivera uma boa relação com a família e a sua família era, para ele, das melhores do mundo. Mas sempre soubera que determinadas coisas aconteciam às melhores famílias.

Estava no seu quarto deitado na sua cama a olhar para o tecto a pensar na sua vida. Estava mesmo a acontecer à sua família. Por mais que pensasse que aquilo era um péssimo pesadelo, não conseguia deixar de pensar que a sua família se iria separar. Nonus, contara-lhe que o primeiro ano com os pais separados, tinha sido difícil, mas que depois se tinha habituado àquele estilo de vida, por mais que lhe custasse.

-A mãe está a chamar! Pelo que me parece, acho que quer falar connosco – disse Kate, entrando de rompante no quarto de Ryan assustando-o.

-Ai! Pregaste-me cá um susto! E se batesses à porta, hã? – perguntou Ryan com ar trocista.

Kate encolheu os ombros e saiu do quarto de Ryan deixando a porta aberta.

Ryan, já sabia que a notícia, seja qual for, iria ser má. Sabia que tinha alguma coisa a haver com a discussão dos seus pais.

Saiu do quarto, pensativo. Ao entrar na sala, viu que Kate já estava sentada numa cadeira em frente aos pais. Tirando uma cadeira da mesa de jantar, foi colocá-la ao lado da de Kate. Ao sentar-se viu no ar taciturno do seu pai.

-Bem, chamámos-vos aqui, porque temos algo a anunciar.

Ninguém falou.

-Bem, eu e o vosso pai, bem decidimos que não podíamos andar neste estado de conflitos. Por isso, eu e o vosso pai decidimos dar um tempo, até as coisas assentarem. Para já o vosso pai, fica na casa do vosso Tio Kule. Podem vê-lo sempre que quiserem.

Ryan, levantou-se de um salto.

-E se eu quiser ver sempre o pai? - perguntou ele à sua mãe.

-Filho – começou, o Mr. Boltan. A sua voz era sombria e penosa – Podes ver-me nos fim-de-semana. Podemos passar o dia todo a escavar e tentar encontrar coisas. Vais ver como não darás pela diferença.

-Ai não? Nunca mais me vais levar à escola, nunca mais tomo o pequeno-almoço contigo aqui em casa, nunca mais… Merda!!

-Palavrões não! – disse Mrs. Boltan, incomodada.

-Merda, merda, merda. Porque é que isto só acontece a vocês? Nunca estão em paz um mês, discutem sempre!

Kate, deu-lhe uma cotovelada, para ele se calar, mas ele virou a fúria para ela.

-E tu, menina faz tudo? Não dizes nada? Agora não fazes nada não é? MIMADA! – disse ele, explodindo de cólera.

-Mimado és tu, que estás aí a fazer um birra, à bebé de quatro anos – retorquiu ela, indignada.

-Caraças. Merda para isto!

Ryan, dando um pontapé com tal força na cadeira, deitou-a ao chão, indo-se embora. Em vez de subir as escadas para ir para o seu quarto, não. Foi para o lado contrário, em direcção à porta da rua. Abriu-a e batendo com ela com toda a força, ainda ouviu a sua mãe a gritar “Não faças birra!”. Mas ele sabia que a sua família e a sua vida estavam arruinadas.

Seguiu pela rua, até à casa do seu fiel amigo, Charles Rwon.

Tocou a campainha. Charles, abriu a porta e com um sorriso cumprimentou Ryan.

Charles era bem constituído. Tinha grandes músculos nos braços, uns peitorais fortes e era alto. Charles era um rapaz que intimidava as outras pessoas, e ele e Ryan tinham ficado amigos, quando Ryan estava a levar uma sova de uns rapazes da turma dele, apenas porque os rufias eram em bastantes número, Charles intrometeu-se na confusão, fazendo com que os rufias saíssem dali com o rabo entre as pernas. Ele e Ryan eram óptimos amigos.

-Fugi de casa, os meus pais separaram-se de vez. Preciso de um lugar para dormir.

Charles olhou para dentro de casa.

-Espera aí dez minutos, se a minha mãe aparecer, esconde-te atrás de um arbusto – disse ele a Ryan.

-Mas o que é que tu… - começou Ryan, mas Charles já tinha fechado a porta e desaparecido a todo a vapor.

-…vais fazer – terminou a frase, Ryan, num murmúrio.

-Mas que é que? Ai, tenho a certeza que ouvi a campainha a tocar. Deve estar avariadoa OH, AUGUSTO, VEM CÁ VER A CAMPAINHA. ANDA CÁ. MEXE-ME ESSE TRASEIRO GORDO E BAFIENTO! – gritou Mrs. Rwon.

Alguém lhe tocou nas costas. Dando um salto, Ryan virou-se e deparou-se com Charles, com uma mochila às costas e um sorriso de orelha em orelha.

-Não podias ficar em minha casa e também não podias ficar sozinho na rua, então vim-te fazer companhia. Vamos para uma gruta que tu e o teu pai descobriram?

-Tu és doido. Mas ‘bora lá!!

*

Mrs. Boltan e Mr. Boltan estavam sentados nuns cadeirões em frente a dois polícias.

Há dois dias que não se sabia nada de Ryan. E curiosamente os pais do grande amigo de Ryan, Charles Rwon, também tinham dado partido que o filho tinha desaparecido ao mesmo tempo. Deviam ir juntos.

-Sabem de algum sitio, para onde eles devem ter ido, Mr e Mrs Boltan? – perguntou o polícia mais entroncado.

Os pais de Ryan abanaram a cabeça sem entusiasmo nenhum.

-Mas eu sei – disse Kate, entrando na sala sem bater à porta.

-Kate, não te dissemos que te queríamos no teu quarto? – perguntou Mr. Boltan

O polícia mais magro que estava em pé, levantou a mão.

-Espere… estavas a dizer que sabias para onde o teu irmão e o seu amigo tinham ido, era isso? – perguntou ele.

-Sim. Deve ter ido para a gruta – disse Kate.

Mr Boltan levantou-se.

-Oh claro – disse ele, batendo com a mão na testa – ele deve estar numa gruta de cerca de 100 metros quadrados, que eu e ele descobrimos. Fica a dez minutos daqui, é mesmo atrás do Fun Shopping Center[1]. Com certeza que está ai. Para onde mais ele podia ter ido?



[1] Centro comercial de diversão